quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Bem-vindo ao meu sótão!



Olá, pessoal!

Sempre apareço por aqui quando a noite já está alta, né? Perdão, meus anjos! Isso que dá essa vida de escritora em tempo integral! A gente não para nunquinha!

Bem, como prometido, vim explicar para vocês o funcionamento do meu processo criativo!

Quando era pequena, me apaixonei pela ideia de Ziraldo sobre ‘macaquinhos no sótão’, em ‘Menino Maluquinho’. Lembro que fiquei preocupada com os bichos lá dentro, pois sempre fui menina cheia de ideias. Hoje, agradeço à macacada dentro de mim por todas as minhas travessuras e faço questão de alimentá-la sempre para que continuem produzindo a todo vapor!

E como faço para mantê-los estimulados e organizar a bagunça que fazem na minha cabeça?

Aqui vai:
  1. Coleto ideias: para colocar algo no papel, precisamos de uma pequena chama, uma inquietação interna que provoque um desejo de resposta. No meu caso, as ideias costumam surgir de conversas com desconhecidos e dos comentários que me abstenho de fazer na hora. De uma certa forma, é como se, pelas minhas linhas, pudesse reescrever a história daquelas pessoas. Quando era mais nova, ficava tensa quando alguém vinha conversar comigo no ponto de ônibus ou na fila da farmácia. Agora, sou eu quem puxo papo a fim de encontrar o meu ‘fio da meada’. Nem todas as ideias vingam, é claro... são sementes lançadas no solo fértil da minha imaginação, mas que, às vezes, acabam se perdendo. Mas, quando começo a sentir aquela coceira, aquela agonia, passo logo para o passo 2.
  2. Escrevo sobre o que conheço: Citando Joel Chandler Harris, “Escreva sobre o que sabe e pelas coisas pelas quais possui um profundo interesse. Quando alguém se entrega por inteiro no papel — isto é que é considerado uma boa escrita.” Quantos romances no mercado não se passam em um país que o autor nunca visitou e acabou por se basear em sites de viagens? (Assista ‘A Noiva Isca’ se quiser dar umas boas risadas com esse tema) Não estou dizendo que isso não possa ser feito! Mas a pesquisa é fundamental na hora da criação. Detalhes pequenos, como a mão com que alguém segura o garfo, podem fazer uma diferença fundamental com certos nichos culturais. Ao mesmo tempo, escrever sobre um país ou um costume diferente do seu pode render viagens interessantíssimas. Ao escrever ‘Brumas de Avalon’, Marion Zimmer Bradley fez uma extensa viagem pelo Reino Unido visitando locações, conversando com historiadores, entrevistando personagens relevantes do druidismo. Então, como estava elaborando um livro acerca do distrito vermelho de Tokyo, no Japão, aproveitei para fazer pesquisas, visitar a região e colher informações e fotos que me ajudassem no trabalho. Hoje, creio que seria capaz de fazer uma monografia a respeito!
  3. Visualizo a história: Não sei vocês, mas preciso VER a minha história para mergulhar nela. Não digo fechar os olhos e me imaginar em uma praia deserta... Falo de olhar para uma figura e dizer ‘Uau, você é o Fulano!’ Recriei para vocês o quadro de ‘Corações Acorrentados’, meu primeiro livro, para que entendam do que estou falando. Aqui, estão apenas os personagens principais e a relação entre eles, mas, no original, havia o castelo, os personagens secundários mais recorrentes – como o pai e os irmãos de Jean, por exemplo – e pequenas notas randômicas como “tem uma queda por Shiro”, abaixo do nome de Jérome. Meus amados da geração Y, sei que parece um sacrilégio a criatura fazer um negócio desse em um quadro de cortiça em pleno século XXI! Mas ainda sou dessas que produzem à mão e, além disso, acordar e dormir com essas imagens me ajudam a trazer os personagens mais para perto.
  4. Fundamento a estrutura: Toda história é passível de buracos. Se você possui pensamento linear, precisa tomar muito cuidado para que o plot principal não acabe por ofuscar as histórias paralelas e deixá-las sem conclusão ou com lacunas que possam vir a confundir o leitor. A fim de evitar que isso aconteça, costumo escrever um pequeno roteiro para cada personagem e, ao escrever o capítulo, faço uma análise do ponto exato na história em que cada um deles se encontra. Isso me ajuda a não me perder – você ficaria surpreso com a frequência com que isso acontece, por isso o cuidado – e também a não deixar nenhum dos personagens esquentando o banco de reservas por muito tempo.
  5. Escrevo e reescrevo: Quando estou com todas as informações em mãos, peço a ajuda das musas e me ponho a trabalhar. Cada capítulo costuma passar por, no mínimo, umas cinco versões: escrita à mão, digitada, revisada para leitura beta, ajustada após comentários de leitores beta e, por fim, revisada para publicação. Mesmo com todas essas etapas e contribuições externas, já aconteceu de encontrar erros em obras já publicadas. Imaginem se não fizesse isso?
  6. Descanso a massa: imagino que quem acompanhava minhas fanfictions deva ter duas perguntas em mente ao ler meus livros: 1) O que ela fez com a história original? 2) Não vai criar nada novo? Por que essas dúvidas? Porque, depois de testar a aceitação de um plot em algum lugar, gosto de guardá-lo na gaveta para, digamos, germinar. Usando novamente ‘Corações Acorrentados’ como exemplo, na fanfic o plot inteiro se passava em um Japão medieval e todos os personagens tinham um final feliz. Ao reescrevê-la, porém, transferi a história para um dos alpes franceses, avancei o tempo até um período pós-catastrófico e fiz um mix de nacionalidades. Para completar, criei uma conspiração política para destronar o personagem principal e dei aos vilões o destino que mereciam. Assistiu ‘Sociedade dos Poetas Mortos’? Então suba na mesa! É exatamente isso o que acontece quando aguarda que um texto amadureça: você passa a enxergá-lo de um novo ângulo.
  7. Respeito o meu tempo: “Nina... Fiz tudo o que você disse aí em cima, mas, ainda assim, meu processo criativo não está processando nada, no momento. E agora? ” Você, meu amigo, está atravessando o famoso “Bloqueio de Escritor”. Aliás, errei feio. Você não está atravessando nada: está empacado, enraizado no chão. O que fazer nessas horas? Vou citar um outro companheiro de armas, a quem admiro muito: Hemingway. “Não se preocupe. Você sempre escreveu antes e vai escrever agora.” Ficar ansioso não ajuda nada na concentração e pode levar até à criação de um texto mecânico e sem alma. O melhor a fazer nessas horas é respirar fundo e dedicar-se a algo que não tenha absolutamente nada a ver com a escrita. Pratique esportes, passeie na praia, tenha uma noite diabeticamente romântica. O importante é que você relaxe, se divirta e comece todo esse processo coletando novas ideias! A partir de então, as palavras poderão fluir naturalmente e seu texto vai ficar ainda melhor.
Ainda tem alguma curiosidade? Tem algum segredo que gostaria de compartilhar com os novos leitores? Comente ou me mande uma mensagem!

Na próxima postagem, vou falar um pouquinho sobre uma de minhas autoras favoritas, aquela que roubou meu coração de tal maneira que fez com que aprendesse um novo idioma apenas para devorar suas palavras: Jane Austen. Este é um blog de literatura, certo? Nada mais justo que falarmos de quem venceu – ou foi derrotado, por que não? – no ramo e absorvermos tudo o que possa influenciar de forma positiva em nosso trabalho, correto?

Vejo vocês no sábado!

Notas:
  • Se ainda não leu Corações Acorrentados, corre lá na Amazon e garanta a promoção de Verão. No ar até domingo! http://goo.gl/IrhFZm
  •  A Noiva Isca é um filme do Reino Unido com David Tennant (o Barty Crouch Jr. ou Língua de Cobra, de Harry Potter e o Cálice de Fogo) e Kelly Macdonald (que faz o papel da fantasma da casa Ravenclaw / Corvinal, a Helena). Embora o filme pudesse ser melhor em vários pontos, o fato dos protagonistas serem escritores faz com que algumas tiradas sejam bem interessantes. Vale a pena conferir!

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